terça-feira, 10 de abril de 2012

As várias faces do icosaedro 1 - A origem



Tudo começou com um e-mail de uma amiga, doutora, de uma universidade pública que me encaminhou o seguinte artigo:


8. Escola, computadores e tablets, artigo de Nelson Pretto


Nelson Pretto é professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia e secretário regional da SBPC-Bahia. Artigo publicado no portal Outras Palavras.
Mais novidades para a educação com o anúncio da distribuição pelo MEC de tablets para os professores do ensino médio. Para "discutir" o tema, aconteceu semana passada, em Brasília, uma reunião promovida pelo próprio MEC com diversos pesquisadores brasileiros. A compra dos tablets foi anunciada pelo ministro Mercadante, mas a decisão já estava tomada pelo anterior, ministro Haddad. Fui convidado para a reunião, meio que sem saber direito o que iríamos ter por lá. Para variar, a reunião virou evento como bem gostam certos educadores e gestores públicos. Evento, não: aula, seminário.

É curioso, pois tive a oportunidade de participar de uma reunião com o próprio Mercadante, então ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, que foi, de fato, uma bela conversa com os hackers e pesquisadores presentes na 12º Fórum Internacional do Software Livre (FISL), acontecido em junho passado em Porto Alegre. Lá, com um número mais ou menos igual de pessoas do encontro da semana passada, um círculo foi formado, as ideias circularam livremente numa grande roda de conversa, e foram feitas inúmeras sugestões sobre as possibilidades do MCTI construir, efetivamente, uma política pública no campo do software livre, do desenvolvimento científico e tecnológico do País e da formação científica da juventude, com a possibilidade de implantação e apoio a algo do tipo "garagens digitais de C&T". Conversa boa, que fluiu leve e com perspectivas positivas. Mas Mercadante deixou a Ciência & Tecnologia e não sabemos se o ministro Raupp dará continuidade ao encaminhado, o que seria uma grande perda.

Quando fui convidado para a reunião sobre "educação digital" (esse era o nome do "evento") do MEC em Brasília, imaginava algo semelhante, em torno de uma mesa, com uma conversa franca sobre os rumos que poderiam tomar os projetos de uso de tecnologias digitais na educação, que existem desde muito. A conversa não aconteceu, e a rica possibilidade de uma reunião onde as ideias rolassem soltas, possibilitando ao ministro e sua equipe (se tempo tivessem para acompanhar!) sentirem as diversas possibilidades apresentadas por nós, pesquisadores que estudam o tema.

Minha surpresa veio desde o início. Ao chegarmos na reunião, encontramos cadeiras (carteiras?!) arrumadas como uma sala de aula, um projetor para as nossas apresentações (com um sistema operacional proprietário fazendo sua propaganda gratuita com aquela bandeirinha ao fundo!), essas com um tempo fixo para as falas - que foi meio para nós mesmos e para uma câmera que gravava tudo - sobre as nossas próprias experiências, salvo uma ou outra fala mais estruturante. A surpresa ainda foi maior quando nos deparamos, em paralelo, promovido pelo mesmo MEC e no mesmo hotel, com uma outra reunião/evento ("Uso das tecnologias na educação") para discutir a parte técnica do projeto de "educação digital", como se fosse possível pensar os dispositivos e infra-estrutura separadamente da concepção filosófica e pedagógica. Mesmo que depois o MEC tenha nos dito que os dois grupos iriam se reunir, fica evidente o equivoco brutal na concepção dessa política pública. Essa distinção tem, no mínimo, um século de atraso!

O ponto nevrálgico, penso eu, está centrado sempre e sempre na mesma questão: as políticas públicas consideram que educação é sempre aula, aula com professor na frente ditando o rumo! Com essa concepção de educação, mesmo que de forma subjacente e não explicitada nos discursos, chegamos à grande questão e ao maior desafio quando pensamos em cultura digital: de que adianta termos notebooks, computadores, câmeras e tablets se o que se espera da escola, em última instância, é que tudo se resuma a um professor dando aulas?

Outra pergunta que têm sido feita, principalmente na mídia, é se deve ou não o MEC adquirir os tablets para os professores? A resposta não pode ser tímida: claro que sim! Mas insisto, temos que pensar maior pois não se trata de discutir se devemos ou não ter a TV Escola, ou ProInfo, ou UCA, ou os laboratórios do Proinfo ou os tablets. Trata-se de tudo e, essencialmente, da elaboração de uma política de tecnologia da informação para a educação, e aqui não estou me referindo a ensino básico ou ensino médio, mas a todos os níveis, das primeiras séries à pós-graduação.

Quem me lê pelo menos eventualmente sabe que repito, quase como um mantra, que estas políticas precisam articular diversas áreas e Ministérios (pense na riqueza de uma articulação das escolas com os Pontos de Cultura!). Insisto que o MEC tem que ser rede, e rede estabelecida com os estados, rede com outros Ministérios, rede com os professores e rede que englobe os diversos níveis da educação.

No entanto, qualificar a palavra "rede" é fundamental. Ficamos acostumados a compreendê-la a partir do intensivo uso da palavra no sistema de comunicação de massa, com a expressão "rede de emissoras de televisão", que produzem os programas no eixo Rio-São Paulo e os distribuem para o resto do País. E, neste caso, mesmo quando existe o envolvimento e participação das chamadas afiliadas, o que vemos são, por exemplo, telejornais que reproduzem tudo, do cenário, entonação da voz, estrutura de programa até a sua marca, com pequenas variações de letras para dar a tal cor local. Na verdade, esse tipo de rede é de distribuição (brodcasting) e não é isso que preconizamos para a educação. É necessário que a rede se constitua a partir do diálogo, que considere a realidade e os valores de cada um dos entes e regiões.

Numa rede assim constituída, com professores atuando de forma colaborativa e coletiva, lhes sendo dadas as condições de salário, formação e trabalho, a presença das tecnologias - todas elas ao mesmo tempo! - pode muito contribuir para uma formação também mais ampla, uma formação que prepare professores e alunos para a chamada cultura digital. O problema, nesse campo, é que parece que o governo - e o MEC em especial - tem receio de afirmar publicamente que vai simplesmente entregar tablets aos professores para que sejam usados como elementos de informação e comunicação para o próprio professor. Tem receio de ser criticado por, corretamente, entregar equipamentos que podem contribuir, pela sua própria natureza, para reestruturar o sistema, sem necessariamente se constituir num veículo de mais transmissão de informações "geradas" de forma centralizada, ou pelo MEC ou por uma das nossas universidades. Computador, tablet, smartfone e todas essas tecnologias não podem ser vistas somente como meros auxiliares dos mesmos processos educacionais.

Precisamos, com tudo isso presente na escola, que os professores estejam preparados para interagir com a meninada que, já, já, também deveria receber seus gadgets portáteis e, nos espaços coletivos da escola, produzir culturas e conhecimentos e não simplesmente consumir informações.

Para tal, insistimos: a preparação dos professores não se dará com a simples oferta de cursos de formação (muito menos padronizados!) e sim de um amplo programa de fortalecimento dos professores (salário, formação e condições de trabalho) visando a imersão dos mestres na cultura digital.
... e eu respondi... !

As várias faces do icosaedro 2 - A resposta



Eu gosto do Pretto como guru... ele inspira... ele questiona... ele desafia... e isso é fundamental para o nosso país tão acostumado a copiar, e mal, as coisas lá de fora.


Eu já passei, tem alguns anos dos 50 ... eu nem acreditava que chegaria neles... e ando meio de saco cheio de tantas idéias sem que isso seja acompanhado de uma proposta pé no chão ( nesse ponto eu mantenho a minha coerência ou teimosia seja lá como se queira denominar a minha atitude ). 

Concordo em gênero, número e grau que deve-se dar acesso, ao professor, às ferramentas tecnológicas, mas sou totalmente contra que o MEC faça uma licitação para a compra de “trucentos tablets” ( da Positivo... e aposto com quem quiser que serão esses os comprados ) para os professores reclamarem que isso está sendo imposto a eles.  Acho sim que deveria ser aberta uma linha de crédito para que o professor possa adquirir até dois tablets, ou netbooks, ou notebooks ou quem sabe até desktop sem juros dividido em 36 meses descontado em folha, negociado com várias empresas a preço de fábrica e sem intermediários ( aí pode ser até da Positivo ) o que daria um valor aproximado de R$ 20 (isso mesmo vinte reais por mês) Façam os cálculos 20 X 36 são 720 isso atende aos principais equipamentos à preço de fábrica.

Não adianta nada, ou muito pouco, se você tem computador e não tem acesso à Internet... então, vamos ao mesmo raciocínio... ou se vai disponibilizar internet para todos os professores ou então pouco adianta... uma internet de qualidade razoável, pelo menos 1 Mbs, e não pode custar mais do que 5 (cinco reais) eu diria até que o ideal é ter áreas digitais... coloca a internet na escola e abre o wifi para todos que alcançarem, professores, alunos, vizinhos.  Alguns poderão criticar que assim a internet vai ficar lenta para a escola ou para o professor... ok então... vamos liberar a internet só quando a escola está fechada... (... se bem que acho isso bobagem... pois se tem demanda é porque está sendo usada... e isso é o que importa... é um absurdo os governos pagarem uma fortuna às Ois da vida para 70% do tempo não ser usada.  Falo por experiência própria a escola só usa internet das 7 as 17 de segunda à sexta faça as contas de novo  24h X 7 dias = 168 horas  de disponibilidade contra 10 horas X 5 dias = 50 horas de uso resultado... 70,24% de não uso !!!  Eu e a minha mania horrorosa de fazer conta... culpa da minha professora da EP ( escola pública ) Maria do Carmo que me ensinou a fazer isso...

O dia que eu for diretor de uma escola... deus me livre e guarde... eu libero o wifi fora do expediente para o público (provavelmente serei exonerado do cargo).

... continua...

As várias faces do icosaedro 3 - A continuação


Bom... mas vamos ao que importa de verdade... a maioria dos professores desse país não sabe fazer as 4 operações com conhecimento... vivemos a síndrome do vai 1 ... 

A maioria dos cursos universitários, em especial os de licenciatura, não utilizam os recursos da informática, telemática ou seja lá o nome que queiram dar, de forma sistemática com embasamento em suas cadeiras.  
Querem ver uma coisa, pergunta para qualquer guri se o Counter Strike é um jogo em Primeira ou Terceira Pessoa... tá eu sei que não temos (ou será que temos?) que saber dessas coisas, mas como falar com nossos alunos se não conhecemos a realidade e nem o idioma que eles falam.  
Qual será a diferença entre um jogo em primeira pessoa para um jogo em terceira pessoa... será que isso faz diferença para o professor?... Será que isso tem alguma coisa com licenciatura , didática, pedagogia...?  
Eu sei, que os professores não conseguem prender a atenção dos alunos por mais de 10 minutos, quando conseguem mas eles, os alunos, ficam horas em seus jogos e o fazem com maestria e ninguém ensina nada a eles ( formalmente ), trocam dicas entre eles naturalmente... um ensina ao outro como passar de fase... e quando são reprovados ( ops...digo... quando não conseguem passar de fase ) eles verificam onde falharam... procuram mais informação sobre o problema... aprimoram as suas habilidades até conseguir êxito... e isso sem traumas ou revoltas, muito pelo contrário... ao conseguirem, comemoram...!  
Claro que um jogo fácil demais não tem graça e nem aquele impossível.  Tem que haver uma certa  didática ( ou melhor jogabilidade ).

As várias faces do icosaedro 4 - O retorno


O Pretto fala em rede e colaboração... mas vamos aqui entre nós... quem vai "perder" tempo em produzir qualquer. coisa que não te dá retorno?

Temos que criar meios para que o professor e sei lá mais quem possa publicar ( tornar público ) suas aulas... seus livros... seus softwares... e seja remunerado..., não pelo fato de fazer, mas pela aceitação do seus produtos.  Vejo essas gráficas virtuais como um excelente exemplo e forma de fazer isso ( você faz, publica... e diz quanto quer ganhar... se alguém comprar você recebe... se ninguém comprar fica o dito pelo não dito ) ... isso serviria para softwares também e, talvez., para kits de ciências e de matemática tudo sob demanda.  O governo criaria os suportes e deixa a coisa andar.  Quem sabe as universidades até produziriam coisas interessantes e disponibilizaria... se lembra do EDUCOM ... o principal pecado foi que levou tanto tempo para ser produzido e nunca foi distribuído e nunca foi atualizado... perdeu o bonde tecnológico...os MSXs sumiram antes dos softwares chegarem ao público... tinham coisas ruins na concepção... mas tinha uns 20% interessantes.  Por favor não me venha falar de trabalho acadêmico naquele caso.

Ainda sobre a publicação é necessário que se desburocratize o processo... Nossa! É tanta taxa, formulário e coisas para fazer que a maioria desiste.  Veja só o meu caso... eu tenho os manuais do GCompris prontos... e resolvi publicá-los em uma editora virtual... tem que:  1) depositar no escritório de direitos autorais - Biblioteca Nacional  2) criar a ficha catalográfica - Câmara Brasileira do Livro  3) Tem que conseguir o ISBN - outro setor da Biblioteca Nacional.  Tudo isso com taxas... formulários... e cópias do livro ( em papel... acredite em PAPEL )...  que tal se isso fosse automático... vc. manda o livro pra editora e o resto acontece já que as informações são as mesmas, as cópias são as mesmas.  Sobre as taxas, que tal descontar alguns centavos de cada livro adquirido e pronto quando  e  se esses forem adquiridos.

Vocês sabem que estou traduzindo uma ferramenta para criar ambientes virtuais, desenvolvido por uma universidade espanhola, sabendo que o material produzido pode ser integrado ao MOODLE, pode ser usado também independente de qualquer outro programa e, pasmem... em qualquer sistema operacional... Windows... Apple... Linux... Andróide (que não deixa de ser um tipo de Linux)... tudo isso porque ele foi desenvolvido em JAVA...  e, claro, vou escrever o manual... e mais um livro de como desenvolver ambientes virtuais e como usar eles no ensino... se não render nada pelo menos renderá o meu prazer de escrever...

Bom... isso é só para começar o papo... teria mais um monte de horas a falar... mas já estou cansado e vocês  também, com certeza...

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